Isabel Heitor, ANA Aeroportos de Portugal. Humanizar as organizações numa nova era: Lições da música jazz

Os avanços tecnológicos recentes, incluindo a inteligência artificial, representam um enorme desafio para os profissionais de Recursos Humanos. No entanto, também oferecem uma oportunidade única para deixar um legado de mudança positiva no mundo. Ao reflectir sobre esses desafios, vejo paralelos com um tema familiar e inspirador: a música jazz.

 

Por Isabel Heitor, directora de Recursos Humanos da ANA Aeroportos de Portugal

 

Nos últimos anos, os estudos sobre comportamento organizacional exploram, através de diversas metáforas, a relação entre música jazz, liderança e improvisação. Nesta nova era da inteligência artificial (IA), a liderança deve estar centrada no ser humano. Como numa banda de jazz, em que cada músico tem o seu momento de brilhar, tocando solo enquanto os outros o acompanham. Essa interacção dinâmica exige respeito mútuo, paciência e compreensão da harmonia colectiva. Da mesma forma, nas empresas, é essencial criar ambientes onde as pessoas possam expressar a sua individualidade, criatividade e confiança, enquanto aderem aos valores organizacionais.

Assim como os músicos de jazz esperam pela sua vez de tocar e improvisar, é cada vez mais imperativo que os líderes respeitem as contribuições únicas de cada indivíduo e viabilizem oportunidades para mostrar os talentos de cada um. Isso envolve ouvir activamente, valorizar perspectivas diversas e fomentar uma cultura de inclusão. É essa unicidade que nos distingue das máquinas.

No jazz, a improvisação é fundamental. Os músicos prosperam na liberdade de explorar e inovar dentro da estrutura da música. Os profissionais de Recursos Humanos (RH) devem implementar ferramentas e práticas que incentivem a criatividade e a inovação. Isso inclui desenvolver novas formas de aprendizagem, promover a colaboração e fomentar uma cultura onde se assumam riscos sem medo de falhar.

Numa banda de jazz, os músicos desejam os seus momentos solo, onde podem improvisar e dar asas à sua criatividade, mas retornam sempre à melodia e à harmonia da banda. Não tocam para si próprios, nunca perdem a noção do todo. Da mesma forma, os profissionais de RH devem criar equilíbrios entre a individualidade e os objectivos organizacionais. Para tal, é primordial definir expectativas claras, manter uma cultura coesa e garantir que todos estejam alinhados com a missão e os valores da empresa.

Os profissionais de RH desempenham um papel fundamental na humanização das organizações. Liderando com empatia, adaptabilidade e autenticidade, com compreensão para construir confiança. Do mesmo modo, as lideranças devem proporcionar oportunidades de crescimento, criatividade e inovação.

À medida que abraçamos a IA e os avanços tecnológicos, a necessidade de humanizar as organizações torna-se primordial. Ao inspirarmo-nos num grupo de música jazz, onde todos têm um momento de liderança, percebemos que assim é possível liderar com respeito, criatividade e harmonia, garantindo que todos se sintam valorizados.

Além disso, tal como o jazz, a humanização da Gestão das Pessoas possibilita que todas elas possam exprimir a sua individualidade. A IA não o faz, embora seja um meio para que tal possa acontecer.

A humanização nas empresas é como uma sinfonia bem orquestrada. É a combinação perfeita de estrutura e liberdade, onde a tecnologia e a individualidade coexistem em harmonia, criando uma cultura organizacional vibrante e inovadora.

 

Este artigo foi publicado na edição de Abril (nº. 172) da Human Resources, nas bancas.

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