
Sara Silva, L’Oréal. O futuro do trabalho: Uma responsabilidade partilhada
Nos primeiros meses do ano, é inevitável pensar no futuro e estar atento a todos os reports de tendências que são publicados. Mas também é um facto que, muitas vezes, enquanto tentamos antecipar o futuro, damo-nos conta de que o futuro é já hoje, muitos temas já são os actuais.
Por Sara Silva, directora de Relações Humanas da L’Oréal
No meu dia-a-dia, quer no trabalho, quer nas conversas com amigos e familiares, sinto a apreensão que o futuro do trabalho suscita. A tecnologia avança a um ritmo vertiginoso, e é natural sentirmos receio perante o desconhecido. Mas acredito que, em vez de apreensão, devemos encarar o futuro como um mundo de oportunidades, despertar a curiosidade e a esperança na maioria dos temas, nomeadamente:
Humanos e máquinas: uma parceria possível
A tecnologia não é a inimiga. A inteligência artificial (IA) e a automação podem libertar-nos de tarefas repetitivas e permitir-nos focar naquilo que nos torna verdadeiramente humanos: a criatividade, a empatia, o pensamento crítico. Num mundo cada vez mais tecnológico, as nossas competências humanas – a capacidade de comunicar, de colaborar, de resolver problemas, de nos adaptarmos à mudança – tornam-se ainda mais relevantes. Devemos investir no desenvolvimento destas competências, tanto em nós próprios como nas nossas equipas. O desafio reside em aprender a colaborar com as máquinas, em vez de competir com elas. Há que assumir que também elas agora são um pilar nas equipas – não substituem ninguém, mas colaboram com todos – e é crucial assegurar que a tecnologia é utilizada de forma ética e responsável, promovendo a inclusão e a equidade.
Reinventar o trabalho
O trabalho do futuro poderá ser muito diferente do que conhecemos hoje. Assistimos à erosão do conceito tradicional de “emprego para a vida”, dando lugar a percursos profissionais mais flexíveis e diversificados. Esta mudança pode ser assustadora para alguns, mas também pode ser libertadora, permitindo-nos explorar diferentes áreas e encontrar o nosso verdadeiro propósito.
Bem-estar e produtividade, um binómio inseparável
Investir no bem-estar dos colaboradores não é um custo, mas sim um investimento estratégico que se traduz em maior produtividade, menor absentismo, maior retenção de talentos e, em última análise, em maior sucesso para as organizações. Na óptica dos colaboradores, o bem-estar não é um luxo, é uma necessidade. E, pela primeira vez nos 22 anos de história do “Randstad Workmonitor”, em 2025 o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal ultrapassa a remuneração como principal factor de motivação. A remuneração continua a ser importante, mas os talentos estão mais concentrados do que nunca em encontrar outras formas de se sentirem realizados.
Em todos estes temas, acredito numa responsabilidade tripartida para vivermos o presente e construirmos o futuro do mercado de trabalho. Não basta as empresas apostarem em formações sobre IA ou lançarem programas de bem-estar que incluam ginásio, meditação ou consultas de psicologia/ nutrição. Os líderes têm um papel fundamental na promoção do bem-estar físico e mental nas suas equipas. Uma liderança empática, que valorize a comunicação e o reconhecimento, contribui para um ambiente de trabalho mais positivo e produtivo. Por último, para além da empresa e da liderança chamo também à responsabilidade individual de cada colaborador em investir no seu autoconhecimento e apostar na aprendizagem ao longo da vida.
O futuro do trabalho em Portugal apresenta-se com desafios e oportunidades. Acredito que, com uma aposta clara na requalificação, na inovação e na valorização do capital humano, conseguiremos navegar a incerteza e construir um futuro próspero. Juntos, podemos construir um futuro do trabalho que seja não só produtivo e inovador, mas também humano, justo e significativo.
Este artigo foi publicado na edição de Fevereiro (nº. 170) da Human Resources, nas bancas.
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