
Vera Rodrigues, MC Sonae: Portugal no top 10. Dos piores…
No seu comentário à LVIII edição do Barómetro Human Resources, Vera Rodrigues, head of People da MC Sonae, faz notar que «a fiscalidade sobre o trabalho desempenha um papel crucial na Gestão de Pessoas, influenciando directamente a forma como as empresas contratam, remuneram e fidelizam os seus colaboradores».
«A carga fiscal sobre o trabalho coloca Portugal no top 10 dos piores países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico). Esta é a dura realidade e, precisamente, no último Barómetro Human Resources, a fiscalidade sobre o trabalho surge identificada como um dos fortes constrangimentos à Gestão de Pessoas. Não é para menos e os números não deixam dúvidas.
Senão, vejamos: em 2023, a carga fiscal e contributiva sobre o trabalho em Portugal foi de 42,3%, nada mais, nada menos, do que a oitava mais elevada da OCDE, consideravelmente acima da média de 34,8%. Este estudo baseia-se no conceito de “tax wedge” – que mede a diferença entre o custo total de um colaborador para uma empresa e o rendimento líquido que essa pessoa recebe, após o pagamento de todos os impostos e contribuições obrigatórias – e é um indicador central no que à competitividade salarial de um país diz respeito.
Eu diria mesmo que é impossível termos uma abordagem séria e transparente sobre a visão e a estratégia de gestão de talento do nosso país, sem que tenhamos este conceito presente.
A fiscalidade sobre o trabalho desempenha um papel crucial na Gestão de Pessoas, influenciando directamente a forma como as empresas contratam, remuneram e fidelizam os seus colaboradores. Num mundo em que a gestão de talento tem cada vez menos fronteiras, apostar na competitividade salarial é um desígnio que devemos assumir.
Em Portugal, e olhando para o nosso posicionamento pouco competitivo, precisaríamos de um verdadeiro “choque fiscal laboral” no que às contribuições e aos impostos sobre o trabalho diz respeito. Basta olharmos para a vizinha Espanha e ficamos logo mal na fotografia.
Os nossos 42,3% comparam com um tax wedge de 39,3%, e se formos olhar, por exemplo, para o Reino Unido, o fosso é ainda maior, ou seja, o tax wedge é de 31,0%. São apenas dois exemplos que apresentam encargos totais sobre o trabalho inferiores aos nossos, mas são precisamente dois países que estão no top 10 no ranking de destinos para os quais mais portugueses têm emigrado, nos últimos anos. No que respeita a competitividade salarial, diria que estamos conversados…»
Este testemunho foi publicado na edição de de Abril (nº. 172) da Human Resources, no âmbito da LVIII edição do seu Barómetro.
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